segunda-feira, 30 de junho de 2014

Brasileiro ainda espera que aplicação renda pelo menos 1% ao mês

A geração hoje na casa de 60 anos, que tinha dinheiro suficiente para investir nos anos de inflação, não consegue se acostumar com uma remuneração abaixo de 1% ao mês nas aplicações.
É a geração que ligava, diariamente, para o gerente do banco aplicar tudo o que sobrava na conta no antigo overnight, o mercado de juros de um dia, e que levava a correção de 1% em 24 horas.

Os motivos vão desde o arredondamento matemático aprendido à época de inflação (1% é o arredondamento de 0,6%) até a sensação de que sempre se perde para aquela parte da inflação não captada pelos índices. Como um sabão em pó dobrou de preço neste ano no supermercado e o IPCA subiu só 3,33%?

Esse brasileiro, e seus filhos, foram acostumados a deixar o dinheiro crescendo, parado na conta, sem assumir risco nenhum, de preferência em um grande banco de varejo --daí a resistência de parte dos investidores de aproveitar taxas maiores em bancos menores, mesmo com a garantia de cobertura de até R$ 250 mil do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

Outra dificuldade dos gestores de fundos é instituir prazos maiores para o resgate das aplicações. 

Quem teve o privilégio de obter correção diária das aplicações também não aceita pedir o resgate de um fundo e isso só ocorrer daqui 30 dias, mesmo que tenha um ganho extra pela espera.
São ainda pessoas que dificilmente apostam em aplicações de mais longo prazo, temendo mudanças ao longo do caminho. E a história recente não ajuda a reverter esses receios.

Quem acreditou nos juros baixos em 2012, quando o BC reduziu suas taxas para o piso histórico de 7,25%, e comprou títulos prefixados (ou fundos de renda fixa ligados à inflação) amargou um prejuízo considerável quando os juros voltaram a subir no ano passado. Alguns fundos e papéis tiveram perdas da casa de 20% em um mês.

O professor William Eid, da FGV (Fundação Getulio Vargas), observa que o fim da inflação substituiu o chamado rentismo (deixar o dinheiro crescendo no banco) pelos juros reais elevados.

Para a presidente da Anbima (associação das entidades do mercado), Denise Pavarina, o brasileiro aprendeu a fazer conta nesses 20 anos de estabilidade e exige prêmios condizentes com o risco que está correndo.


O ex-presidente do BC Gustavo Franco, estrategista da Rio Bravo Investimentos, acrescenta que a tentativa do governo de reduzir os juros para patamares menores em 2012 foi frustrada pela fragilidade das contas públicas e pela alta da inflação. 

Fonte: Folha de São Paulo

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